Construção civil: crise no setor de locação de equipamentos

07/08/2012 - Construção civil: crise no setor de locação de equipamentos
 
Atraso na liberação de obras, inadimplência nos contratos e redução de até 30% no custo horário dos equipamentos deixam empresas locadoras num dos piores momentos já vividos pelo setor
 
As previsões otimistas ventiladas pelo governo, por políticos e entidades ligadas ao setor, de que 2012 seria um ano de muita atividade para os canteiros de obras, hoje se tornou pesadelo para as empresas locadoras de equipamentos da linha amarela (caminhões, escavadeiras, carregadeiras, tratores, motoniveladoras e retroescavadeiras). Desde 2010, essas empresas vem comprando máquinas para atender a expectativa de demanda, mas os atrasos das obras, além de ocasionarem a maior baixa na atividade da construção desde 2009, já arremetem os locadores a uma crise sem precedentes.
Dados da APELMAT/ SELEMAT – Associação Paulista dos Empreiteiros e Locadores de Máquinas de Terraplenagem e Ar Comprimido e Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos e Máquinas de Terraplenagem do Estado de São Paulo mostram que cerca de 60% da frota das pequenas e médias empresas estão paradas no estado. Além disso, 40% das empresas já demitiram e a totalidade dos locadores parou de comprar equipamentos. A crise  já se reflete na indústria paulista e nas empresas associadas à APELMAT que representam cerca de 25% da venda de equipamentos da linha amarela no país.
A APELMAT e o SELEMAT reúnem cerca de 1800 profissionais e empresas de médio e pequeno porte, o que equivale a uma frota aproximada de 15 mil equipamentos e caminhões. De acordo com a associação, em 2010, essas empresas juntas faturaram o equivalente a R$ 1,2 bilhões. Com a crise, prevêem registrar em 2012 faturamento de aproximadamente R$ 840 milhões.
O mercado de locação no Brasil, como um todo, representa, hoje, cerca de 30% das vendas de equipamentos da linha amarela – em 2011, foram quase 90 mil unidades vendidas para esse setor no país, algo em torno de R$ 3,5 bilhões anuais.
O diretor do Conselho Técnico da APELMAT e proprietário da empresa Wandy Rental, Wanderley Cursino Correia, informa que o cenário animador motivou os locadores a investir. “Buscamos as melhores oportunidades para comprar máquinas novas a bom preço, juros baixos e longo prazo, tecnologia de ponta, treinamos técnicos e operadores. Ao comprarmos, fizemos a economia girar como planejou o governo, e agora as obras não acontecem na mesma cadência em que foram divulgadas e os investimentos todos estão aí para serem pagos. Não sabemos mais por quanto tempo podemos suportar sem trabalho”, reclama.
Wandy possui caminhões e máquinas de pequeno, médio e grande porte, mas está com 60% da frota parada. Ele conta que quase 100% das empresas locadoras associadas à APELMAT atravessam uma forte crise por causa da falta de trabalho, incluindo aquelas que  iniciaram as atividades há poucos meses e já fecharam as portas.
A inadimplência nos contratos de locação é um dos agravantes da crise. O diretor da Loctrator e membro do Conselho da APELMAT, Maurício Briard, informa, sem revelar nomes, que ele e vários locadores já retiraram máquinas de obras em São Paulo, Minas Gerais e Goiás por falta de pagamento. “Há contratos de R$ 100 mil, R$ 300 mil  e até R$ 400 mil que trabalhamos sem receber”, diz ele.
A Loctrator não está apenas focada no estado de São Paulo, trabalha em pelo menos oito estados brasileiros em contratos de longo prazo em pedreiras, mineradoras, construção de portos e estradas. “São boas soluções para não nos prejudicarmos tanto com a crise, mas os custos operacionais com fretes, estrutura de manutenção e assistência técnica são muito altos para quem aluga equipamentos para outros estados. Por isso trabalhar em São Paulo é menos oneroso”, diz Briard.
Outro ponto negativo acarretado pela falta de obras é a queda nos preços por hora de locação. Tanto a Wandy Rental, como a Loctrator precisaram reduzir quase 30% dos preços para pegar trabalho. “Essa redução de 25% a 30% dos valores chega a números praticados há cinco anos”, alerta Wandy. “O resultado disso é uma queda abrupta de quase 40% no faturamento das locadoras que chegaram, em alguns casos, a demitir grande parte do quadro de funcionários treinados e preparados para suprir a demanda mais qualificada que o mercado pedia,” avalia ele.
 
Obras continuam conjugando os verbos no “gerúndio”
Licitando, fazendo, preparando, aguardando, atrasando. No que se refere ao tempo e conjugação verbal que vem tirando o sono dos locadores e profissionais da construção são os entraves para a liberação das obras. A lista de atrasos é extensa, como infraestrutura viária no entorno do Estádio Itaquerão, Trecho Norte do Rodoanel, construção e ampliação de aeroportos, Ferroanel, Túnel Santos – Guarujá, expansão do Porto de Santos, entre outros projetos que até o momento estão emperrados, seja por demora nas licenças ambientais, vaivens jurídicos e políticos, seja por falta de liberação de verbas. Modernização de estradas, portos e obras de saneamento também não evoluíram conforme o planejado.
De acordo com Helena Ratão Marques, diretora da MRT – Manuel Ratão Tratores, empresa associada à APELMAT, as iniciativas governamentais são muito tímidas, com altas cargas tributárias, falta de incentivos da indústria local e o governo tem que controlar a inflação, reduzir a taxa de juros ao mesmo tempo realizar as obras. “O governo admite que o dinheiro já está empenhado nos projetos, mas faltam gestores para agilizar o processo com rapidez. Na outra ponta está o locador, que tem o custo/ oportunidade, ou seja, precisa constantemente renovar a frota para estar sempre apto a pegar um trabalho. Ele precisa equacionar bem todas essas variáveis e fazer uma gestão de frota eficiente, minimizando os riscos, mas se mantendo atualizado”, explica.
“Há soluções e o País deve se encarregar disso. A crise no setor de locação de equipamentos acontece por causa de ineficiência estatal, em âmbito federal e estadual, que carecem de uma gestão eficiente para acelerar os trâmites burocráticos e fiscais dos projetos. Não tenho observado atitudes efetivas do governo para que esses revezes se resolvam”, diz Helena.
Outro locador importante, Eurimilson Daniel, da Escad Rental, avalia que o governo adotou nos últimos anos uma política de consumo e não de investimentos. Para ele, desde o início de 2011 a realização das obras apresenta um declínio gradativo que contradiz os discursos otimistas, o que culminou com essa crise na atividade de locação, agravada pela crise internacional, no DNIT e na Construtora Delta. “Isso sem se falar nas demoras das licenças ambientais, dificuldades burocráticas e período eleitoral”, diz Daniel.
“O locador acreditou no crescimento divulgado e apostou nas oportunidades, mas teve uma inevitável queda de rentabilidade e aumento da concorrência – motivado especialmente pela alta de mercado que antecedeu essa baixa na atividade. As empresas estão com uma queda no fluxo de caixa, consumiram as reservas de capital e as dívidas continuam”, avalia. O PAC de equipamento e da Mobilidade são bem vindos para a indústria, mas reduzem ainda mais as oportunidades de trabalho para o setor de locação”, finaliza.
 
Comunicação Timepress

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