A prática da boa comunicação garante o bom desenvolvimento das obras
14/03/2012 - A prática da boa comunicação garante o bom desenvolvimento das obras
Eliane Lichtenberg*
Já se foi o tempo em que as obras de porte na engenharia nas suas mais diferentes especialidades se ocupavam tão somente da produção sem levar em conta os benefícios advindos da prática de melhor ouvir as necessidades e prioridades de seus colaboradores.
Hoje, enquanto as obras crescem em tamanho e complexidade, interagindo mais e mais com diferentes públicos, os seus impactos sociais, econômicos e ambientais extrapolam os muros e os limites físicos do empreendimento.
Gradativamente, os olhares de todos os envolvidos em obras de porte se alargam e se expandem enquanto os ouvidos ficam mais atentos às exigências e reivindicações de colaboradores e dos moradores no entorno para minimizar riscos e acidentes, greves indesejadas, perdas de pessoal e atrasos nos empreendimentos em construção
Seja junto aos colaboradores que desempenham funções as mais variadas diretamente nos canteiros de obras, seja junto às comunidades vizinhas impactadas do ponto de vista social, econômico e ambiental, é fato que hoje os empreendimentos de engenharia de porte nas suas mais diversas especialidades vêm se empenhando mais e mais para “bem comunicar” e para “bem se relacionar”. Não só para criar internamente um ambiente de trabalho mais motivador e saudável e de maior produtividade, mas também porque cada vez mais as comunidades – sejam elas estabelecidas no Norte ou no Sul – ganham crescente poder de expressão sobre seu ambiente, participando de coligações sociais para buscar espaços ambientalmente sustentáveis.
Atualmente, inúmeras são as comunidades dispostas a se organizar para melhor se opor aos grandes empreendimentos em construção ou para negociar modificações ou medidas de compensação. Os jornais e as manchetes na TV estão aí para confirmar, a exemplo dos recentes acontecimentos em Rondônia, envolvendo a construção da Usina de Jirau.
Diante da atual realidade do país com empreendimentos em construção cada vez maiores e mais complexos, com prazos a serem obedecidos rigorosamente, empregando um contingente expressivo de pessoal, situados muitos deles próximos a áreas densamente urbanizadas, a prática da boa comunicação – tão banal porque é exercitada a todo o instante, minuto a minuto, segundo a segundo de nossas vidas, e por isso mesmo tantas vezes descuidada! – se revela mais e mais como uma ferramenta fundamental para minimizar a ocorrência de riscos de atrasos e acidentes e até mesmo de paralisação dos serviços. Vale lembrar também, claro, das obras planejadas para a Copa 2014 no Brasil – a chamada “Copa Sustentável”.
É sabido que as decisões tomadas pela equipe de coordenação de obras – basicamente integradas por engenheiros-gestores com uma visão do todo incluindo o completo domínio dos custos e prazos envolvidos, do orçamento e do planejamento geral – e que os objetivos dos escopos dos contratos a serem alcançados acabam impactando uma vasta rede de agentes sociais incluindo empregados, fornecedores, clientes, consumidores, investidores, acionistas, governos e comunidades.
A partir daí cresce a diversidade das demandas e dos interesses dos inúmeros participantes envolvidos. E falando sem rodeios: por tratar-se, na maioria das vezes, de interesses conflitantes, se exige um rápido e firme posicionamento ou negociação para o bom entendimento entre as partes envolvidas.
Assim, os exemplos de iniciativas e de ações são os mais variados.
1) Empresa de engenharia do segmento de montagem industrial de unidades siderúrgicas, petroquímicas ou plataformas marítimas fomenta a instalação e a continuidade de cooperativas de costura para a confecção dos uniformes necessários estimulando a melhoria da renda de famílias residentes nas proximidades do empreendimento.
2) Empresa de engenharia da área específica da aerofotogrametria e levantamentos topográficos inclui em seus cronogramas de atividades visitas periódicas e pessoalmente a proprietários, juntamente com a Fiscalização, para acertos sobre indenizações devidas e melhores informações sobre o traçado seja do gasoduto ou do oleoduto a ser instalado.
3) Empresa de engenharia contratada para as obras de ampliação de uma petroquímica de porte ocupa-se da organização de um dia dedicado inteiramente ao voluntariado para a conscientização sobre a necessidade de um esforço cooperativo entre seus mais de 3 000 colaboradores.
4) Empresa de engenharia contratada para as obras de instalação de uma estação de bombeio visando ampliar a capacidade produtiva de uma refinaria promove reuniões nas escolas próximas com professores, alunos e pais e faz visitas às residências dos moradores vizinhos (em sua maioria, em áreas rurais) para alertar sobre os cuidados nas rodovias em função da maior movimentação de cargas e veículos em geral.
5) Empresa de engenharia contratada para a construção de altos-fornos numa nova siderúrgica incentiva colaborador-soldador, verdadeiro artista anônimo descoberto no período das obras, a desenhar e pintar painéis de sua autoria no tamanho de 20mX10m sobre temas referentes aos cuidados com o meio ambiente na Semana Mundial do meio Ambiente, em junho, além de painéis sobre o uso correto dos EPIs (equipamentos de proteção individual).
6) Empresa de engenharia contratada para executar os serviços de “parada de manutenção” numa petroquímica organiza campeonato de futebol entre mais de 30 equipes, fornecendo toda a infraestrutura necessária para a boa realização do evento – desde as quadras com bom sistema de drenagem e iluminação, jogos de uniformes completos, lanches e transporte para os alojamentos.
Enquanto é fato que a responsabilidade primeira pela organização de tais iniciativas recai sobre as próprias empresas contratadas também é fato que, apesar da resistência inicial interna por parte de muitos profissionais e técnicos e dos inúmeros “nãos” a muitas das iniciativas propostas, as ações acima relacionadas contribuíram nas respectivas obras em andamento para:
a) criar um clima de melhor entendimento e melhoria da imagem da própria contratada junto ao cliente – algumas das costureiras da cooperativa eram ou mães, ou filhas, ou noras dos colaboradores da mão de obra direta empregada;
b) evitar atrasos da equipe de topógrafos a partir da pré-autorização de entrada nas propriedades e também a partir do acerto de valores a receber negociados com antecedência com os proprietários – é sabido que atrasos acabam se ref letindo em prazos vencidos e/ou em gordas multas a serem pagas ao cliente-contratante conforme as cláusulas do contrato vigente, também em custos operacionais extras por conta de alojamentos, diárias, transporte e alimentação de toda uma equipe de profissionais deslocados para o local das atividades e que não puderam cumprir as tarefas inicialmente propostas;
c) criar um ambiente de maior cooperação com a vizinhança em geral, que se percebe melhor informada e assistida – diminuição simultânea do desconforto frente aos transtornos trazidos pelas obras e pela mudança súbita na rotina anterior de vida;
d) fortalecer o espírito de equipe entre todos, integrando mais e fazendo conhecer-se melhor;
e) evitar possíveis acidentes e atropelamentos envolvendo principalmente crianças e idosos não acostumados a um maior f luxo de carga e carretas na região. A ocorrência de um acidente envolvendo atropelamento pode vir a causar a paralisação geral da obra por um prazo determinado bem como o afastamento justificado dos colaboradores diretamente envolvidos, isso sem falar na queda do ânimo emocional de toda a equipe;
f) incentivar o espírito de companheirismo e de coleguismo, principalmente junto à mão de obra direta.
Gradativamente, o que se presencia é a verdade de que a atividade de comunicação social ou de comunicação e responsabilidade social ou de responsabilidade social – porque são diferentes as suas denominações no campo, variando de empresa para empresa – passa a integrar o sistema de gestão do empreendimento em desenvolvimento assumindo a sua característica “transversal”, ou seja, a de estar inserido na cultura e no modus operandi das diferentes equipes.
E que, apesar dos diferentes formatos dos projetos e eventos citados relacionados – as cooperativas de costura, o Dia do Voluntariado, as reuniões e visitas pessoalmente a escolas e moradores vizinhos às obras, o campeonato de futebol etc. –, o objetivo comum existe: ou seja, o de promover a “melhor comunicação” e o “melhor relacionamento” tanto com o público interno – basicamente, os colaboradores no empreendimento nos seus mais diferentes graus de responsabilidade, faixas etárias, níveis culturais e locais de origem – como com o público externo – comunidade residente nas proximidades (moradores, escolas, lideranças comunitárias etc.), órgãos públicos municipais e estaduais etc.
Atitudes aparentemente simples e de custos reduzidos, mas de caráter pró-ativo e preventivo, envolvendo, principalmente, o propósito da “comunicação” auxiliam efetivamente na minimização de transtornos e impasses. Independente do local onde as obras aconteçam: seja no Norte, em plena Amazônia junto aos ribeirinhos e proprietários indenizados em função do gasoduto Coari-Manaus; seja no Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, a cerca de 100 quilômetros da capital Porto Alegre, em plena área do circuito da cana e da rapadura no pacato município de Santo Antonio da Patrulha; seja no congestionado Sudeste em terras paulistas-paulistanas.
Os resultados positivos e o retorno saudável estão sendo confirmados nos sites das empresas e em seus relatórios sociais e de desempenho anual.
Tudo para tornar o ambiente mais humano, mais produtivo e, consequentemente, mais socialmente responsável.
Moradoras de comunidade próxima a obra, em Santa Cruz, no município do Rio de Janeiro, confeccionam uniformes para os colaboradores. Muitas delas, pertencendo às famílias dos próprios colaboradores
* Eliane Lichtenberg é publicitária e relações públicas, graduada e pós-graduada em Comunicação Social, atuando nos últimos sete anos junto a empresas de engenharia de porte em obras por todo o Brasil; atualmente, é Comunicadora Social na UTC Engenharia S.A.
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