itorial Eng 614.jpgPALAVRA DO PRESIDENTE

As várias dimensões da falta d’água

O quadro atual de escassez de água na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) nos leva a reflexões sobre como chegamos a essa situação e a sua evolução futura. O Instituto de Engenharia vem de longa data estudando o assunto e, no cumprimento de suas missões, fez com bastante antecedência, diagnósticos precisos e repetidos alertas sobre um possível agravamento do quadro sanitário em geral. Esses alertas foram feitos a partir de seminários e eventos técnicos e, em seguida, encaminhadas as suas conclusões às diversas áreas que cuidam do assunto.

Assim, após vários anos, continuamos estudando e analisando o assunto, do qual podemos identificar algumas dimensões principais. A primeira a ser considerada é a de que a Sabesp, concessionária dos serviços de água e esgotos em boa parte dos municípios do Estado de São Paulo, é uma empresa de grande porte, atualizada, com práticas modernas e profundo conhecimento da sua área de atuação. Do ponto de vista da operação de seu sistema, adota práticas modernas e conseguiu em um momento de emergência utilizar manejo adequado das pressões e vazões de água na rede, e assim atingir as reduções de consumo necessárias.
No que tange à redução dos vazamentos, observado pela imprensa, trata-se de um trabalho difícil, pontual, de custo elevado e baixos resultados, mas que tem de ser objeto de ação permanente. São milhares de quilômetros de tubulação e boa parte da rede é antiga, instalada em terrenos sujeitos a recalques e interferências várias.
Outra dimensão refere-se aos planos e opções de investimento na expansão de seu negócio principal.
No atendimento à RMSP o último grande investimento realizado para abastecimento foi o do Sistema Cantareira. Em seguida a empresa priorizou o saneamento com a construção de redes e estações de tratamento de esgotos.
Nesse caso, o IE vem estudando três alternativas de suprimento de água em larga escala aos sistemas de tratamento e abastecimento hoje existentes, além de medidas que possam aumentar a confiabilidade geral. Essas alternativas poderão ser implantadas a partir de manifestações de interesse e serem executadas sob o modelo de parcerias público-privadas (PPPs).
No tocante à conscientização de seus consumidores quanto ao uso racional ou mesmo a intensificação do reúso de água, essa situação delicada cria a oportunidade de mudança ou racionalização de seu consumo.
Os resultados aparecem em destaque nos grandes consumidores industriais, mas é fundamental que essa percepção de novos hábitos se estenda a toda população. Quanto ao reúso de água para abastecimento em grandes volumes, depende ainda de grandes e custosos desenvolvimentos tecnológicos e uma preparação dos consumidores por meio de campanhas educacionais.
Finalmente, o atual quadro emergencial aponta para uma dimensão maior e que extrapola o setor de saneamento e abastecimento: trata-se do crescimento muito rápido e desordenado da macrometrópole que se formou a partir da cidade de São Paulo e hoje abrange os municípios desde Sorocaba, Piracicaba e Bragança até adiante de Taubaté, no Vale do Rio Paraíba. Esse crescimento rápido da população e ocupação concentrada dos espaços, apesar de todos os esforços administrativos, não foi acompanhado de planejamento ou ações administrativas e institucionais voltadas ao atendimento das demandas que se formaram ou se ampliaram.