editorial _636.jpgPALAVRA DO PRESIDENTE

Por uma engenharia nacional fortalecida

No início dos anos 2000, a expectativa era de que faltariam engenheiros para atender à demanda num futuro não muito distante. O cenário era de crescimento, especialmente nas áreas civil e de petróleo. Em alguns momentos, foi preciso, até, recontratar profissionais experientes, já aposentados, para dar conta da demanda.
Mas, especialmente nos últimos três anos, com a crise política e econômica, e os escândalos de corrupção revelados na Operação Lava-Jato, a situação virou do avesso. Levantamento feito pelo Dieese com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, a pedido da Federação Nacional dos Engenheiros, apontou que, apenas entre 2014 e o primeiro semestre de 2017, mais de 50 000 engenheiros perderam vagas no mercado formal de trabalho. Se levado em conta que, segundo especialistas, cada engenheiro fora do mercado corresponde a cerca de 30 outros funcionários desempregados, o impacto, grosso modo, atinge em torno de 1,5 milhão de pessoas. E só cresce.

O setor de engenharia, assim como tantos outros, tem sido abalado por esquemas de corrupção, má gestão e falta de transparência. É indiscutível que esses problemas gravíssimos precisam ser corrigidos e os autores dos atos ilícitos devem ser penalizados. Mas o mesmo não deveria ocorrer com as empresas de engenharia. Elas precisam continuar trabalhando, criar empregos, gerar impostos.
O que se vê, porém, é a punição das pessoas jurídicas, impedindo que participem de licitações e tenham acesso a créditos oficiais, por exemplo. Medidas como essas estão destroçando a engenharia nacional. E mais: arrastam consigo toda uma cadeia de atividades, afetando milhões de pessoas, de empregos. De acordo com dados de setembro de 2017 da Confederação Nacional de Municípios (CNM), havia, na época, mais de 8 200 obras iniciadas e paralisadas no país, além de 11 200 que nem sequer foram começadas, apesar de já estarem previstas.
Essa prática tem acarretado um encolhimento do setor. Na contramão do lema do ex-presidente Juscelino Kubitschek que prometia um desenvolvimento de 50 anos em cinco, se essas restrições se mantiverem pelos próximos cinco anos, a engenharia corre o risco de retroceder à situação de 50 ou 60 anos atrás.
Tecnicamente, a engenharia brasileira tem qualidade e competência reconhecidas mundialmente. Está presente em mais de 40 países, planejando e executando projetos de grande porte e excelência. É tempo de preservar a engenharia nacional e reconduzi-la ao lugar de destaque profissional e técnico que lhe cabe.
Que sejam punidos os culpados e o governo fiscalize firmemente para evitar que o problema se repita, e as empresas possam continuar o trabalho técnico com qualidade, seriedade e comprometimento.
Mas vale lembrar que a empresa brasileira sofre com as inúmeras dificuldades do chamado custo Brasil, com um volume de impostos aviltante e o excesso de burocracia. Tudo isso faz com que fique pouco competitiva em relação às empresas estrangeiras. Então é necessário dar a essas empresas, já competentes tecnicamente, a possibilidade real de serem também competitivas economicamente.
Não se trata, porém, de uma reserva de mercado incompetente, como já ocorreu historicamente em alguns setores. Pelo contrário, os engenheiros brasileiros são a ferramenta do desenvolvimento. O Brasil tem passado, nos últimos anos, por uma crise política, ética, institucional, econômica e social sem precedentes. Se, como cidadãos, mais do que técnicos, conseguirmos ajudar a engenharia a superar esse cenário e entrar nos eixos do crescimento de novo, o país sairá fortalecido. E a engenharia estará pronta para cumprir seu papel.

 

 

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