itorial Eng 614.jpgPALAVRA DO PRESIDENTE

Crise hídrica em São Paulo: um problema que poderia ter sido evitado

 

Em comemoração ao Dia do Engenheiro o Instituto de Engenharia concedeu o título de Eminente Engenheiro do Ano de 2016 à professora e engenheira, Monica Ferreira do Amaral Porto, atual secretária adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, por sua destacada trajetória na engenharia e principalmente nas áreas de recursos hídricos, qualidade e reúso da água. 
Monica Porto sempre foi pioneira em sua carreira, sendo a primeira professora titular na área da engenharia civil da Escola Politécnica. Docente dedicada, com um grande número de alunos de mestrado e doutorado, demonstrando sempre grande disposição de multiplicar o conhecimento que adquiriu por meio da universidade.
Monica também exerceu de 2008 a 2014 a presidência da Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH) –, instituída em 1986, pela Escola Politécnica e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) –, fundação responsável por inúmeras pesquisas aplicadas em engenharia hidráulica, hidráulica computacional, recursos hídricos e engenharia ambiental.

Um dos projetos de maior visibilidade da FCTH é o Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo (SAISP) que geram mapas a cada cinco minutos com boletins sobre as chuvas e suas consequências na capital paulista, inclusive, com previsões sobre inundações.
Em janeiro de 2015, Monica aceitou o convite do secretário de Estado de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Benedito Braga, para ser sua secretária adjunta e compor a equipe que iria enfrentar a crise hídrica. O Estado de São Paulo, na ocasião, passava pela maior crise de abastecimento de sua história. O Sistema Cantareira, considerando o seu volume útil e as duas reservas técnicas, tinha apenas 7,2% da sua capacidade nominal. A imprensa falava em colapso total, a sociedade preocupada esperava pelo pior. Monica Porto recebeu, tão logo iniciou o seu trabalho, a visita de técnicos da Califórnia, do Texas e da Austrália, todas as regiões que também passavam por crises hídricas graves. Tempos depois, passada a nossa crise, ela foi procurada pelos mesmos técnicos desejosos de estudar as soluções adotadas pelo Estado de São Paulo.
Quem trabalha com hidrologia, hidráulica, obras de preservação de recursos hídricos ou geração de eletricidade sabe  que a dependência dos regimes hidrológicos exige atenção permanente para a relação oferta e volumes armazenados versus as diversas demandas de água. No caso de São Paulo, em especial na região macrometropolitana, este binômio é crítico, por conta do crescimento populacional e esgotamento de recursos hídricos que possam ser explorados com eficiência e economicidade.
O Instituto de Engenharia vem alertando sobre esta situação crítica desde 2003, quando realizou o seminário “Abastecimento de água da macrorregião de São Paulo: perspectivas a curto, médio e longo prazos”. Na ocasião, o Instituto produziu um Relatório de Considerações e Recomendações sobre o tema, onde propunha como medidas urgentes, que o governo do Estado, por meio da Sabesp, tomasse providências imediatas para a redução do consumo, de modo a garantir reservas mais seguras para enfrentar a próxima estiagem, pois as simulações indicavam possibilidades de um severo racionamento no próximo ano ampliando os riscos de operação do sistema adutor metropolitano e acarretando efeitos negativos para o abastecimento de água da RMSP.
Entre outras medidas, sugeria que fosse implantado imediatamente um sistema de operação emergencial, com a participação dos comitês da Bacia do Alto Tietê e Bacia Hidrográfica do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, para administrar uma eventual fase crítica de escassez; que fosse ampliada a campanha de combate aos desperdícios, em conjunto com as prefeituras municipais e a sociedade civil e que fossem aceleradas as ações visando à conclusão das obras do Sistema Produtor do Alto Tietê, removendo os obstáculos existentes para que entrassem em serviço, no curto prazo, os mananciais do Alto Tietê: Biritiba e Paraitinga – duas barragens já prontas; assim como a elevação do nível de Taiaçupeba, o que permitiria produção complementar de aproximadamente 5,7 metros cúbicos por segundo de água.
Além disso, recomendava que o Plano Diretor de Abastecimento de Água da RMSP da Sabesp fosse acelerado e passasse a incluir, entre suas alternativas, projetos de grande porte, como os que previam usos múltiplos das águas da Bacia do Rio Ribeira de Iguape; que os programas efetivos para gestão da demanda fossem coordenados pelo Comitê da Bacia do Alto Tietê; que para cada alternativa de uso de manancial novo ou existente, fossem feitas avaliações de viabilidade técnica, ambiental, econômico-financeira, socioeconômica e política, as avaliações deveriam incluir os custos de construção, recuperação e proteção de mananciais, adequações para processos avançados em Estações de Tratamento de Água (ETAs), bem como aqueles de manutenção e operação durante todo o período do projeto; entre outras medidas.
Agora, já superada a última e mais séria crise, estas observações sobre recomendações feitas em tempo oportuno, têm a função de alertar e dar o mérito aos participantes das tomadas de posição que direta ou indiretamente participaram da solução que nos levaram a superação da crise hídrica, acima citada.
Hoje, felizmente, as águas vindas do céu e melhor conhecimento e equipamento desenvolvido, nos deram um período de tranquilidade. Porém, uma cidade como São Paulo, que pretendemos que seja uma Cidade Mundial, não pode mais sofrer sobressaltos e períodos como o que pudemos presenciar no ano de 2016. Felizmente a engenharia brasileira pôde responder com competência no momento necessário para resolver o problema da crise hídrica.