Brasil atrai área de pesquisa da IBM por sua capacidade de formar cientistas

20/03/2012 - Brasil atrai área de pesquisa da IBM por sua capacidade de formar cientistas

Unidade brasileira da IBM Research Division foi tema de seminário realizado pelo Observatório de Inovação e Competitividade
 
Além da estabilidade política e econômica, o tipo de formação dos pesquisadores nos cursos de pós-graduação no Brasil, com ênfase nas capacidades de abstração e pensamento, foi o argumento que convenceu a IBM a instalar um de seus centros de pesquisa e desenvolvimento aqui, em vez de outro país, segundo Fabio Gandour, cientista chefe da unidade brasileira da IBM Research Division. Ele participou do seminário “O caso da IBM Research – Brasil, perspectivas e desafios”, realizado nesta segunda-feira (19 de março) pelo Observatório de Inovação e Competitividade (OIC), na Cidade Universitária, em São Paulo. O OIC estuda, produz e divulga dados sobre as atividades de inovação no Brasil e no mundo e é vinculado ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).
A IBM Research Division no Brasil é a nona divisão de P&D da IBM no mundo. Tem equipes em São Paulo e no Rio de Janeiro. A divisão emprega cerca de 3.500 pesquisadores em todo o mundo. No Brasil, são 100 cientistas, mas a empresa procura um novo local para instalar a divisão porque vai aumentar a equipe. Gandour disse que a IBM não tem tido dificuldade na hora de encontrar profissionais para trabalhar na divisão brasileira de P&D. “Estamos inclusive repatriando brasileiros que estavam no exterior. Eles entram com vantagem na competição [pela vaga] porque falam português”, acrescentou.
Gandour contou que levou seis anos para fazer o projeto de montagem do centro de P&D da IBM no Brasil. A empresa decidiu ter uma atuação mais globalizada em P&D. “Sem querer, entrei em uma competição com cerca de 70 países”, lembrou. “O fator humano brasileiro pesou muito [na decisão pelo Brasil]”, acrescentou.
Gandour explicou que os cientistas formados nos centros mais desenvolvidos dispõem de mais dinheiro para a infraestrutura dos laboratórios, o que lhes dá acesso a equipamentos modernos. “No Brasil, temos um parque formador de recursos humanos que produz pesquisadores menos aptos com instrumentação de vanguarda e mais com concentração, abstração, saber pensar. Vamos aproveitar essa habilidade”, descreveu. “Não planejamos ter um grande parque instrumental, mas um ninho de cérebros”, completou.
A empresa tinha 31 temas para compor a agenda e levou 10 meses para definir os quatro focos de atuação: recursos naturais, com ênfase em óleo e gás natural por causa do petróleo no pré-sal; sistemas humanos, relacionados à realização de megaeventos como Copa do Mundo e Olimpíadas; microeletrônica, com ênfase em semicondutores e empacotamento; e ciência de serviços (service science, management and engineering, em inglês). Essa última área se relaciona ao aumento da importância do setor de serviços nas economias. “Escolhemos essa área para iniciar as atividades no Brasil. Esse primeiro núcleo operacional brasileiro é uma espécie de protótipo”, comentou.
Segundo Gandour, apesar de haver uma discussão sobre a possibilidade de o Brasil estar passando por um processo de desindustrialização, a IBM identificou empresas nacionais que competem no mercado externo e que têm demanda por computação de alto desempenho, o que pode gerar um novo tema para a área de P&D da multinacional no País. “É possível colocarmos essa área como um quinto eixo da agenda até o fim de 2012”, contou.
“O Brasil vive momento muito especial e um dos indicadores desse fato é ver empresas como a IBM investirem em um tipo diferente de negócio no Brasil, no caso, um centro de P&D”, destacou Mario Salerno, coordenador do OIC, ao final da apresentação de Gandour. “Não estamos acostumados no Brasil a ter centros de P&D, somos uma economia que valorizou investimento em fábricas, em tijolo e aço. É um bom indicador de que as coisas estão mudando aqui”, concluiu.
O próximo seminário do OIC será no dia 26 de março, das 11h às 12h30, no auditório do IEA, na Cidade Universitária. O palestrante será Sergio Risola, diretor executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), incubadora instalada no campus da USP no bairro do Butantã, em São Paulo.