O efeito sanfona da economia prejudica as operadoras do sistema logístico

21/05/2015 - O efeito sanfona da economia prejudica as operadoras do sistema logístico
 
Por Mauro Roberto Schlüter*

Os predicados de movimentação da sanfona são comumente associados às situações onde o encolhimento e expansão são periodicamente alternados. Este efeito quase sempre surge associado às situações em que pessoas, após se submeterem a regimes alimentares restritivos para diminuir a obesidade, retornam às tentações da mesa farta e por decorrência à situação de obesidade. Mas o efeito sanfona também pode ocorrer em outras situações, como a economia do país.
Após passar por um período de crescimento econômico, o país vê seu PIB despencar para índices negativos e com perspectivas nada animadoras, dado o pacote de corte do orçamento porvir. Certamente o recrudescimento da crise não é bem vindo e causa estragos na atividade empresarial das cadeias produtivas do país, rompendo metas de planejamentos estratégicos. Da mesma forma que uma crise de demanda se torna danosa para as cadeias produtivas, um aumento da demanda causa também um problema de planejamento, embora de menor magnitude e até desejado. Este efeito sanfona, que se origina nas variações de demanda por produtos de consumo final e atinge as empresas que formam as cadeias produtivas, é bem conhecido dos profissionais que administram as suas cadeias de suprimento (supply chain), e tem um nome específico: efeito chicote (ou bullwhip effect).
O efeito chicote nada mais é do que a ausência de percepção de um evento que ocorre em uma cadeia de suprimentos não gerenciada adequadamente e que não compartilha as informações acerca das tendências de mercado de demanda do consumo final do produto que industrializa. Um bom exemplo para compreender o efeito chicote pode ser demonstrado por um fila de veículos que aguarda o sinal verde de um semáforo. Quando o semáforo acende a luz verde, a informação é prontamente recebida pelo primeiro veículo, porém o segundo veículo toma como base a movimentação do veículo a sua frente e assim sucessivamente, até que o último veículo da fila inicie o seu movimento. Constata-se que a movimentação dos veículos sofre retardos ocasionados pela percepção com que cada condutor de veículo recebe e percebe a mensagem do veículo à frente e não a mensagem do semáforo está com o sinal verde. O movimento de parada em um sinal vermelho sofre o mesmo efeito e certamente o esforço de frenagem do primeiro veículo é bem menor do que o último veículo de uma fila e não raro ocorrem colisões. Este retardo de percepção e informações atinge em cheio as empresas que industrializam matérias primas, partes, conjuntos e subconjuntos de produto de consumo final. Até que uma determinada empresa que está posicionada longe do consumo final perceba que esta diminuiu, não poderá fazer nada em relação aos elevados estoques de matérias primas e em alguns caos de produtos acabados, que manteve ao longo de um cenário econômico de crescimento. Isto causa um belo estrago no capital de giro das empresas e cadeias produtivas, a ponto de comprometer a sua sobrevivência.
Maior, porém é o estrago que este efeito causa nas empresas operadoras do sistema logístico do país (SLT), formado por transportadoras, operadores logísticos e transportadores multimodais de cargas. As empresas operadoras do SLT fornecem serviços e, portanto a simultaneidade de oferta o torna não estocável, o que ocasiona ociosidade nos veículos, seja parcial ou total. Quando o efeito chicote recessivo acontece, cessa a demanda por serviços de transporte e eleva a demanda por serviços de armazenagem junto a operadores logísticos. Na medida em que decorre o tempo, o estoque armazenado junto a operadores logísticos diminui e este serviço também cessa, sem contar a onda de verticalização que acomete as empresas das cadeias produtivas. Este cenário compromete a sobrevivência das empresas operadoras do SLT e a drástica diminuição de recita compromete o fluxo de caixa, podendo levar as empresas a situação de venda de ativos para sustentar o período recessivo e desmobilizar a mão-de-obra contratada. Embora estas medidas sejam acertadas no curto prazo, comprometem o planejamento no longo prazo, principalmente quando o cenário apresenta tendência de crescimento e neste sentido as empresas retomam investimentos em ativos e mão-de-obra. Cabe aos empresários das empresas operadoras do SLT ficar atentos ao efeito chicote e evitar situações de crescimento no curto prazo que não apresentam sustentabilidade no longo prazo.
Mauro Roberto Schlüter, professor de Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
Sobre o Mackenzie - A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.

Ricardo Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação

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